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REVIEW - AMERICAN CRIME HISTORY: O POVO CONTRA O.J SIMPSON (The People V. O.J Simpson) – 2016

  • Foto do escritor: Lucas Kadoshi
    Lucas Kadoshi
  • 14 de fev. de 2018
  • 8 min de leitura

Atualizado: 17 de abr. de 2020



Não existe motivo para que você não assista essa arrebatadora produção, que simplesmente, venceu nove categorias do Emmy, e levou também, dois Globos de Ouro. Todos esses prêmios não são à toa, já que a série conta com roteiro bem escrito, ótima direção, e o que falar das atuações? Elas estão de cair o queixo, é notável, o esforço que todos os envolvidos tiveram, para nos transportar para o centro do que foi, e ainda é, um dos casos mais polêmicos do processo penal midiático americano.


Ryan Murphy, mais conhecido por sua outra obra, American Horror History, é o produtor por detrás de American Crime History. E ele merece todos os elogios possíveis, as roupas, os carros, a fatídica mansão em Brentwood, Los Angeles, o tribunal do júri, tudo está onde deveria estar, fiel até nos mínimos detalhes. Não só isso, como também, o próprio visual “noventista”, os famosos, tons pasteis por exemplo, característicos da época, são vistos em todos os capítulos.



Esta é uma serie de drama antológica, onde cada temporada tem uma história independente. Nessa primeira, portanto, seguimos o que foram os eventos do assassinato de Nicole Brown Simpson e Ronald Goldman, a suspeita que recaiu sobre o ex esposo de Nicole, astro do Futebol americano e ator de cinema, Orenthal James Simpson(O.J – “The Juice”), e o que ficou conhecido como “Julgamento do Século”.



O “Julgamento do século”, teve dois grandes lados, a promotoria de acusação, e a defesa, que digladiaram no tribunal. O caso foi um prato cheio de discussões polêmicas, e a série coloca todas elas na pauta, todas são oportunas, e ainda, extremamente atuais.


Marcia, Marcia, Marcia - Violência e papel da mulher



Sarah Paulson vive Marcia Clark, Promotora-Chefe do caso O.J. Simpson



Bom, Marcia Clark, interpretada pela excelente Sarah Paulson, passou por tanto preconceito durante o caso, fosse sobre sua postura em corte, seu penteado de cabelo, inclusive em sua vida pessoal, com a criação de seus filhos, até sua vida amorosa, ao ponto de ter fotos intimas suas vazadas em tabloides. A forma como a serie retrata estas coisas, nos faz pensar, sobre a postura com a qual os americanos viam a ideia de uma mulher estar liderando a linha de acusação, a diminuição pela qual ela passou, e nos faz refletir sobre o tema em relação aos dias de hoje.



Outro elemento, deveras relevante, é a opressão e a violência contra a mulher, dois temas amplamente discutidos no decorrer do julgamento, já que em outras situações, Nicole Simpson, muito antes de seu assassinato, sofrera agressões verbais, psicológicas e até físicas por parte de O.J. Além disso, denúncias foram feitas, inclusive, ligações pedindo ajuda, mas mesmo assim, a polícia jamais prendeu ou responsabilizou O.J nas ocasiões, e a coisa toda apenas abrandou com a separação dos dois, mas, jamais deixara de acontecer. Nicole, foi negligenciada e diminuída, fosse por que O.J era famoso, fosse por que ela era mulher.


Esse caso é um circo! ” – A mídia



Julgamento sendo transmitido ao vivo na TV americana



O show retrata fidedignamente a atenção exagerada que a mídia, a imprensa, deu ao caso. Desde a perseguição do Ford Bronco, em que Simpson e um amigo seu, tentaram desesperadamente fugir, passando pelos boatos, especulações e investigação sobre todos os envolvidos no processo. Ninguém escapou da atenção midiática, casos antigos e vida particular tornaram-se públicos e escancarados. Por fim, o julgamento em si, completamente televisionado, e que por vezes interrompeu inclusive a transmissão de eventos esportivos importantes, tais como, partidas da NBA, e até, da Copa do Mundo FIFA de 1994.



A discussão da obra pode até parecer clichê aos olhos de alguns espectadores, mas, ela emerge e traz algo que só foi piorando com o passar dos anos, aliás, essa midiatização do crime, é um mal que se espalhou pelo mundo, basta mudar de canal da tv para perceber. O que dizer de programas como: Brasil Urgente, Cidade Alerta e a Tarde é Sua? Os chamados “Urubus” da televisão brasileira, fazem tanto alarde em cima de casos e mais casos criminosos pelo Brasil, que chega assustar o modo como as vezes o delito passa a ser enxergado, mais como um produto de consumo, um entretenimento, do que o que ele realmente é, um ilícito penal. E para piorar, e a série também toca nesse ponto, trazem visões e mais visões que muitas vezes deturpam os fatos, confundindo a opinião pública, isso, quando não se intrometem diretamente no caso. Quem não lembra de Sonia Abrão conversando com o sequestrador de Eloá, quando as autoridades indicavam que ele estava prestes a se entregar, mas com a ligação o mesmo decidiu permanecer ali (o que infelizmente, mais tarde, culminou na morte da vítima).


O jogo da Raça- A justiça contra O.J. Simpson


Em reprodução, capa do jornal impresso Los Angeles Times, noticiando os "Riots"



1991, Los Angeles, Rodney King foi brutalmente espancado por quatro policiais, enquanto sofria tal tortura, mal sabiam os envolvidos que estavam todos sendo gravados. O homem afro americano, foi levado ao hospital com fraturas extremamente horríveis. Três dias depois do ocorrido, a gravação já circulava os jornais locais, e apresentava um fato, que todos já sabiam, mas que nunca teve essa exposição, a violência praticada pela força policial contra a população afro-americana. Essa informação foi o estopim para o barril de pólvora que era Los Angeles na época. A população foi as ruas, protestou, e revoltou-se violentamente contra a polícia de LA e contra o resto das pessoas. Esse foi o chamado “Los Angeles Riots”.



Está aí o contexto em que se insere o caso de O.J, e em 1994, essa mesma população ainda lembrava do que havia acontecido três anos antes, e o homicídio duplo praticado pelo famoso, só trouxe a memória, e confundiu a todos, fazendo com o que o caso parecesse um negro X A polícia sendo “acusado injustamente”. Valendo-se disso, a defesa montou seus argumentos, de forma, que deveriam haver provas para dar substância a tal coisa. E é assim que uma das principais testemunhas, um dos detetives do caso, e um dos primeiros a ter acesso as luvas, o sangue no carro e na casa, e a faca usada no crime, Mark Fuhrman, tornou-se um dos centros deste caso.



Steven Pasquale encarna o Detetive Mark Fuhrman na produção do canal FX



Fuhrman, havia sido acusado de racismo inúmeras vezes anos antes, e eventualmente, surgiram gravações em que Fuhrman expressava palavras de ódio, e usava termos pejorativos contra a população afro-americana. Foi assim, que um caso que surgira como definido, tornou-se nublado, e involto numa corrente de dúvidas. Teria Mark Fuhrman plantado as provas e maculado a cena do crime? A polícia foi mais uma vez racista ou não?



Não vou entrar nas respostas a essas questões. Não somente porque está analise é para te incentivar a ir lá e assistir, mas também, porque a própria série não responde essas perguntas. Afinal, na vida real nada foi definido. O que me interessa deste tópico portanto, é o fator emocional, os limites da comoção e o clamor por justiça social, e o quanto estas coisas podem nos cegar, nos impedindo de analisar os fatos como eles são, de forma concreta e factual, e isso se agrava principalmente quando falamos de um crime tão vil quanto o homicídio.



E como o seriado acerta em cheio, porque conseguiu apresentar isso de uma forma respeitosa e imparcial, sem ser claro mentiroso, afinal é fato noticiado, que a maioria dos jurados tinham mais em mente a questão racial, do que a análise dos fatos em si. E em contraponto, nos mostra sem medo o quanto os negros realmente sofrem nas mãos da polícia.


Johnnie Cohcran (Interpretado pelo excelente, Courtney B. Vance) sendo algemado, após ter sido parado por um policial, apenas por ele ser negro, demonstrando a dura realidade de milhares de afro-americanos



O time dos Sonhos – As atuações


Se a equipe de advogados de defesa de O.J ficou conhecida como “Dream Team” (em português, time dos sonhos), essa alcunha cabe aqui para todo o elenco principal. Não existe na minha opinião, uma atuação ruim, nem sequer mediana, na verdade, é o oposto. Todos estão convincentes, te comovem, te fazem se colocar no lugar deles, em suma, te transportam para o mind-set de cada um dos envolvidos. Na verdade minto, talvez a figura menos reveladora com relação ao que pensa, e como vê o caso, seja, o próprio O.J Simpson, interpretado por Cuba Gooding Jr. Mas óbvio que para isso existe uma razão, já que na série o personagem ora se comporta como se fosse inocente, ora como se fosse culpado, e o próprio ator assumiu em entrevistas que procurou “brincar” com isso, para que a audiência, assim como quem viveu na época, ficasse em dúvida sobre a questão.



Entretanto, sem ser desleal com os outros atores, dou destaque a quatro deles: Os interpretes de Marcia Clark, Christopher Darden, Johnnie Cochran e Robert Kardashian, respectivamente, Sarah Paulson, Sterling K. Brown, Courtney B. Vance e David Schwimmer. E dou esse destaque, por que a própria série o faz. São afinal, os personagens com mais tempo de tela, com mais desenvolvimento, e a desenvoltura como cada um se porta, são dignas de reconhecimento. E caramba, que cena foi essa da catarse de Darden no tribunal?! Sensacional, só por esse pedaço isolado a serie já me ganhou.


Elenco de AMCS e os reais envolvidos no caso (Créditos: Site Cinéfilo em Série)


Por fim, outro fator que me deixou impressionado, foi a fidelidade com a qual muitos dos atores interpretaram seus personagens. Não estou exagerando, basta dar uma simples pesquisa, ver as gravações reais da época, e ver que os atores, imprimiram, o jeito de falar, o jeito de se mover, até a expressão facial, e os mínimos trejeitos das suas contrapartes verdadeiras. É de assustar, e só mostra o quanto esse caso foi recheado de pessoas peculiares, com histórias as quais se vale a pena contar. Valorizo também o trabalho dos produtores, que deve ter sido muito difícil, em contratar atores tão parecidos com as reais pessoas.


Das cinzas da tragédia – Algumas ideias soltas


Bom, se até agora elogiei o show, não poderia deixar de falar dos pontos negativos. Em primeiro lugar, existe uma linha de história que é apresentada de forma muito rápida, e que, ao meu ver, bem poderia ter tido um desenvolvimento um pouco melhor. E esse elemento é o sofrimento da família Goldman, que aparece de forma super breve, lá pelo quarto episódio, e só é retomado nos últimos momentos da série. Falo que isso poderia ter sido um pouco mais explorado, por uma única razão, mas de muita importância, já que O.J Simpson seria posteriormente, levado a julgamento em um processo de âmbito civil, movido pela presente família.



As crianças Kardashian enquanto assistem a transmissão do julgamento pela TV


Outra bola fora, talvez, foi dar um certo destaque a família Kardashian. Veja bem, não falo de Robert Kardashian, que era amigo pessoal de Simpson e que desempenhou um papel tanto na corte, quanto nos eventos da vida de O.J. Falo do resto da família Kardashian, as crianças principalmente, que no meu ver, foram colocadas ali apenas por conta de sua fama atual, já que na época elas não eram tão conhecidas como o são hoje. Porém, entendo, que assim foi feito para que atraísse a atenção de certa parte do público. Entretanto, não poderia deixar de expressar que não gostei tanto dos momentos em que elas apareciam.


O VEREDITO – Conclusões finais


A série nos trouxe em sua primeira temporada um dos casos criminais mais polêmicos da história americana. Apresentou da forma mais fiel que uma narrativa deste tipo permite, tomando liberdade criativa quando era necessário, mas ainda assim, buscando na realidade dos fatos, e no livro no qual teve como sua principal fonte de pesquisa, uma forma plausível dessas coisas serem encaixadas. As atuações são excelentes, os atores verdadeiramente vestiram a camisa, e encarnaram da forma mais fiel possível, os envolvidos no caso. O visual e toda a produção não ficou de lado, pois toda a atmosfera está exatamente como era em 94. Por último, a série termina com o apagar das luzes do escritório da promotoria, e a dúvida do amigo de Simpson, Robert, representando a dúvida que agora perturbará o público para sempre: Seria o Juice, culpado ou não?


Notas


- HISTÓRIA/ROTEIRO: 10,0/10,0

- PERSONAGENS/ATUAÇÃO: 10,0/10,0

- IDENTIDADE VISUAL/ FOTOGRAFIA: 9,5/10,0

- TRILHA SONORA: 7,0/10,0

- DIREÇÃO: 9,0/10,0

- NOTA GERAL/ MÉDIA: 9,0


MATERIAL EXTRA:


1. Comparações entre a série e a vida real:


2. Reportagem sobre o preconceito sofrido por Marcia Clark durante o caso:


3. Documentário sobre o caso:

4. O livro que inspirou a série - "The Run of His Life: The People v. O. J. Simpson by Jeffrey Toobin*":


*Jeffrey aparece na série, já que foi o principal jornalista a cobrir o caso na época. E muito do que foi noticiado tinha ele como fonte. Diante de tudo que viu e ouviu, ele acredita que O.J é culpado.



Por fim, grande abraço! E nos vemos no próximo Review

 
 
 

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PLAYLIST:

Para Refletir:

"Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento;

Porque é melhor a sua mercadoria do que artigos de prata, e maior o seu lucro que o ouro mais fino.
Mais preciosa é do que os rubis, e tudo o que mais possas desejar não se pode comparar a ela.


Vida longa de dias está na sua mão direita; e na esquerda, riquezas e honra.


Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas de paz.


É árvore de vida para os que dela tomam, e são bem-aventurados todos os que a retêm."


Provérbios 3:13-18

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